terça-feira, 24 de agosto de 2010

DEEP PURPLE


Coelho Branco

Queria entender o que é o metal. Queria um professor que não fosse ignorante, ensinado por outros ignorantes; desprovido de vontade em saber.
Não é diferente de tudo o resto que se aprende na Escola. Se tenho professores que não tem interesses, objectivos ou saibam que a cultura é um alimento, não sei o que possa esperar.
Bem, andava a vaguear à procura de músicas mais antigas quando me lembrei que independentemente do seu valor, Beatles e Rolling Stones não são nem os maiores nem os únicos do tempo em que o meu pai era um puto.
Cresci rodeada de música. Sem contar os clássicos e os centos de cds de metal e rock pesado, há vinil em vários formatos e uma coisa que também é interessante e que tem que ser levado em conta; as capas dos albuns.
Discos dos Pink Floyd, Deep Purple, Led Zeppelin, são obras de arte de imagem. Mas nesta imagem toda há algo que é a identidade de um tempo em que não havia xtc, mas havia “ácidos” e o movimento psicadélico tinha tomado conta deste lado do mundo.
Os anos cinquenta tinham sido limitados. Tirando a guerra da Coreia, o mundo ainda se refazia da Segunda Guerra Mundial.
O Bill Haley com Rock Around The Clock quinze anos antes tinha feito uma música que achava impossivel de dançar. O Jerry Lee Lewis, o Chuck Berry ou o Little Richard, eram meio twist, meio soul mas eles eram os, digamos, sobreviventes da Grande Guerra, e não os seus filhos.
A geração que nasce ou começa a crescer nessa época é que vai ser o princípio de um ciclo que é o que considero o do verdadeiro rock.
Nos Estados Unidos houve uma banda que tem a ver com as músicas que o meu pai punha a tocar para eu adormecer, os Jefferson Airplane. Tinham uma vocalista que ele achava especialmente bela e que cantava entre outras uma canção chamada White Rabit. A letra era algo como…
One pill makes you larger, and one pill makes you small
Um comprimido pôe na maior e outro pequenino
And the ones that mother gives you, don't do anything at all…
Os que a tua mãe te dá não fazem nada…
… When the men on the chessboard get up and tell you where to go
… Quando os homens do tabuleiro do Xadrêz se levantam e te dizem para onde ir
And you've just had some kind of mushroom, and your mind is moving low…
E comeste uma espécie qualquer de cogumelo, a tua cabeça está a andar de vagar…

O melhor é mudar de assunto e falar de outros seres que começaram a sua história precisamente por essa altura, e que já aqui referi umas linhas acima…

Deep Purple

No Jornal para onde escrevo há um rapaz que é quem trata da saúde aos computadores da empresa. Segundo o senhor coordenador desse Jornal os Deep Purple são provavelmente a sua banda favorita e há tempo ele terá perguntado para quando um artigo sobre esta mítica banda Inglesa. Por isso em honra do Mr. Fernando Cosme, cá vai o que sei ou penso sobre os Purple. Seja lá como seja, ainda não sabia ler e já os ouvia... depois ouvi a comer gelados, mais tarde com cigarros e alcoól, e sempre me soube muito bem.

A banda nasce em 1967 por causa de um baterista, o Chris Curtis que criou uma espécie de banda a que chamou Roundabout. A intenção dele era convidar diversos elementos a tocarem com ele meio à vez.
Uma das pessoas a desde o início gostar especialmente da ideia foi o Jon Lord que era teclista e estava na mesma banda do Chris, os The Flowerpot Men.
Portanto enquanto a ideia germinava, iam-se reunindo os elementos para a concretização da ideia de rodar pessoal por essa banda base. Tudo teria corrido bem de não fosse o Chris andar a decorar o apartamento usando papel de alumínio para as paredes. Entretanto houve um dia que não sei o que lhe aconteceu. Puf; desapareceu.
É por essa altura que aparece um senhor chamado Ritchie Blackmore, que era guitarrista e que tinha mais um outro amigo que era baterista, o Ian Pace.
Afinal como a banda não ía chamar-se Roundbout, era necessário arranjar um nome justificável e para tal nada como usar o nome da música favorita da avó do Ritchie, Deep Purple.

Claro que eu sabia desta mas foi o papzz que me explicou que em Symphony of Swing, um filme exclusivamente musical de 1939, uma banda famosa da época, a de Artie Shaw, toca exactamente esse tema, cantado por outra cantora muito conhecida de então, a Helen Forrest. Era um estilo recente na época, o “swing”. É brutal mas foram temas destes que anos depois por influência dos blues e de uma elevada dose de irreverência vão criar o Rock.

O primeiro álbum dos Deep Purple, Shades of Deep Purple é de meados de 1968 e parte da sua popularidade ficou a dever-se aquele que viria a ser o seu primeiro êxito, o tema Hush, que foi também o primeiro single da banda. Ouvindo o disco, dá para ver que nem tudo é deles. Na realidade nem percebo porque raio é que há um tema de Jimy Hendrix que mesmo sendo Hey Joe, não creio que precisasse de ser adaptado já que o Jimi já fazia por o re inventar vezes demais.
Sempre invulgar é o lançamento de dois álbuns no mesmo ano mas seguindo a biografia dos rapazes encontra-se The Book of Taliesyn em Dezembro. Neste álbum voltam no fundo a “covers” de outras bandas já que voltam a tocar um tema dos Beatles e, quanto a mim, vergonhosamente, de Niel Diamond.
O vocalista inicial era um fulano de nome Rod Evans que tinha tudo a ver com o rock que se fazia, mas nada com as ideias progressistas dos restantes elementos da banda, especialmente de Ritchie Blackmore. Felizmente em Inglaterra também há Deus. Por acaso, o Ritchie estava já em 1969 com um velho amigo, o baterista Mick Underwood, a ver a banda Episode Six que tinha por vocalista um tal Ian Gillan. No fim, o Ritchie mais o Ian Pace juntam-se ao Ian Gillan e desatam de tocar. Juntamente com Jon Lord, estava a nascer uma das fusões mais maravilhosas da história dos princípios do que virá a converter-se um dia na escola do hard rock. Durante um mês seguido não fizeram nada que não fosse tocar.
O pior disto é que agora havia algo que nunca antes tinha acontecido. Duas bandas com formações comuns em parte, e diferentes na globalidade, a tocar ao mesmo tempo. Num estúdio tocavam com uma formação e ao vivo com outra. Para a história das traições fica o facto de especialmente o Evans só ter sabido que havia outro vocalista quando no dia 10 de Julho de 1969 a banda sobe ao palco equipada com o Gillan. Bem, eu podia contar isto com mais detalhe mas a história é tão extensa e complexa que para primeira parte da banda, os seus primórdios, já chega. E já vos falei do Roger Glover? Pois na verdade era o outro amigo do Gillan, também membro dos Episode Six. Recapitulando, agora que temos a banda “como deve ser”, depois de três albuns e toda uma nova sonoridade para dar ao mundo, a banda compõe-se pelo vocalista Ian Gillan, Ritchie Blackmore na guitarra, Roger Glover no baixo, as teclas com Jon Lord e Ian Paice na bateria.
Em Abril de 1970 sai o primeiro álbum com a nova formação. Claro que a sonoridade é muito mais electrónica incluído grandes instrumentais absolutos, como Fools. Durante esse ano e o seguinte não vão a estúdio por nada. Os registos que há são pontuais mas algo de novo surge entretanto, que é o que há quem tenha chamado de duelos entre a guitarra de Ritchie e a voz de Gillan.
Mesmo assim a banda de Hertfordshire até esse momento nunca havia saído de Inglaterra. Há algo de invulgar para fazer que é gravar um álbum de estúdio em condições de ao vivo; num palco sem espectadores. Ritchie Blackmore tinha uma qualidade superior na composição de novos temas e é assim que nasce por exemplo Highway Star que foi escrita numa carreira de autocarro depois de um jornalista ter perguntado como é que eles criavam as suas músicas… We're on the road, we're on the road, we're a rock'n'roll ba-and!
No fim de 1971 a banda chega a Montreux na Suíça onde estava a decorrer o famoso festival. No casino estava a tocar o Frank Zappa. Na última noite em que dava concerto houve uma cena altamente. Alguém incendiou o Casino e Zappa que estava a tocar num sintetizador, um produto novo para a época, para de tocar e grita textualmente “Fogo Artur Brown!” e começa a dar indicações para o público sobre os melhores caminhos a usar para sair. Foi tudo tão bem feitinho que o Roger Glover ainda aproveitou para saltar para o palco no meio do fogo para ir ver o sintetizador; cool… ou HOT.
A banda fica alojada no Grande Hotel de Montreux e para a gravação vão usar o estúdio móvel dos Rolling Stones. Instalaram os instrumentos nos corredores do hotel e começaram a ensaiar. O resultado é que desde esse dia sempre que os Deep tocam ao vivo, pelo menos quatro das sete músicas do disco Machine Head são incluídos no alinhamento, entre os quais o tema que provavelmente é o mais famoso mundialmente, Smoke on the Water.
O tema foi o último a ser gravado. Blackmore tinha inventado um riff que não tinha sido usado em qualquer dos outros temas do albúm e que era conhecido como "durrh-durrh". Não havia letra mas então veio a idéia de escrever sobre o que acontecera na gravação do disco. Gillan afirma que eles estavam num bar quando Roger Glover escreveu num guardanapo o título da música, enquanto olhava para uma foto de um jornal que mostrava fumo do rescaldo do incêndio do casino a correr suavemente sobre a água dos bombeiros.
O Ian Gillan estava contra o título porque achava que ía ser mau porque o pessoal podia associar o título a drogas; pelo menos, cachimbo de água e tal. Mal imaginavam eles que 40 anos depois ainda haveriam de tocar o tema em todos os ao vivo.
Em 1972 gravam ao vivo no Japão o álbum mais famoso da banda, Made in Japan regressando rapidamente para em Itália gravar Who Do We Think We Are.
A pressão é enorme com uma cadencia incrível de espectáculos e por vezes há elementos que se substituiem uns aos outros por adoecerem; the show must go on.
Em 1972 Ian Gillan demite-se da banda garantindo ainda alguns concertos entre os quais um segundo concerto no Japão. Nesse concerto a 23 de Junho de 1973 Jon Lord canta o “Happy Birthday” ao colega Ian Paice e logo de seguida Gillan sobe ao palco e informa o público que a banda acabou.
A banda acaba mas não a empresa que tinha sido criada por ela, a Purple Records.
Afinal há uma fase três. O vocalista e baixista dos Trapeze, Glenn Hughes entrou para o lugar de Gillan. Tinha havido outra hipótese para segundo vocalista com um membro dos Free que acabou por não se concretizar. A banda podia continuar só com quatro elementos mas mesmo assim havia vontade de manter a ideia de um segundo vocalista. Por isso começaram a receber aquilo que chamamos hoje “demos”. No meio disto havia uma de um puto gordo com a cara cheia de espinhas, de nome David Coverdale. Este ser estava condenado a fazer muita gente ficar com a pele arrepiada e deixar muita rapariga a chorar. Tinha abandonado a escola aos quinze anos e tinha uma banda enquanto vendia roupa para boutiques.
Decidiram convida-lo para uma audição. Ao fim de seis horas consecutivas a cantar os temas todos dos Purple, o gorgo ficou; mas nem sabia. Eles tinham gostado tanto dele que estavam a fazer render o peixe. A banda fecha-se num Castelo na Escócia onde Coverdale aproveita para compor umas músicas e uns senhores decidem tratar-lhe da imagem para o por “mais apresentável”. O David só tinha cantado uma vez ao vivo e enquanto se preparava emocionalmente para a ideia de tornar isso quotidiano, a banda volta a Montreux para gravar o álbum Burn. Uma vez mais foi usada a unidade móvel dos Roling Stones que além de muito boa, parecia ter dado alguma sorte no passado.
A banda toca com esta nova formação pela primeira vez na Dinamarca em 9 de Setembro de 1973. O novo álbum só vai sair em 1974.
Ao vivo os dois vocalistas vão levar várias vezes ao limite o possível, chegando Coverdale a ficar intimidado pela qualidade do Hughes. Nesse ano Ritchie Blackmore vai mostar pela primeira vez até onde consegue levar o seu mau humor quando chateado. No Festival California Jam, que tinha uma duração prevista de doze horas, Ritchie queria tocar ainda de dia porque o ao vivo era para filmar. Como anoiteceu, ele partiu uma das câmaras com a sua guitarra e ainda conseguiu fazer explodir um amplificador. O realizador era um fulano conhecido na época por filmar espectáculos ao vivo e tinha no dia antes perguntado ao Ritchie como queria fazer a filmagem e perguntou-lhe se ele fazia alguma intenção de partir a guitarra. A resposta foi textualmente… “sei lá; que merda”; pronto. Assim sendo a guitarra foi e a câmara também.
O novo álbum, Stormbringer não agradou nada ao Ritchie por ter aproximações ao funky. Ele tinha quase trinta anos e isso acelerou a vontade dele de sair para fazer uma outra banda.
Para o lugar dele vem o Tommy Bolin que tinha um pequeno contra. Enquanto toda a formação anterior da banda gostava de copos, este gostava de copos e de droga, por isso, por exemplo, no “Last Concert in Japan”, o rapaz não conseguia tocar porque seu braço estava anestesiado; seringas a mais. Mesmo assim um novo álbum, Come Taste the Band, é editado. Já não chegava e o Hughes passa também a dedicar-se às drogas. Foi uma profunda pena porque o Tommy era mesmo um excelente e reconhecido músico com referencias muito boas até no jazz.
Perante todas estas situações, em 1976 o David Coverdale e o Jon Lord consideram não haver mais possibilidade de continuar com a banda. Nesse mesmo ano o Tommy morreu de overdose em Miami.
O que poderia ter sido o fim, acabou por provocar o germinar de excelentes novos projectos.
O Ian Gillan que entretanto se tinha convertido em vendedor de motos, é convidado pelo Roger Glover para criar uma banda com o seu nome, a Ian Gillan Band, embora a tenha dissolvido mais tarde e junto aos Black Sabath.
Richie Blackmore ainda o vai buscar para integrar a banda dele, os Rainbow. Teve imenso sucesso com essa banda onde até Roger Glover ajudou.
David Coverdale forma os Whitesnake onde também participavam Ian Paice e Jon Lord que durante esse tempo também se dedicou ao clássico, ao jazz e à composição de música para filmes.
Glenn Hughes voltou a constituir os Trapeze onde chegou a contar com a grande, extraordinária participação de Gary Moore.
Bem, em 1984 a saudade, o saber e a vontade reúnem de novo a banda com a formação quase inicial, a da segunda fase com Ian Gillan, Blackmore, Ian Paice, Roger Glover e Jon Lord. Lançam uma colectânea, Perfect Strangers, um álbum ao vivo, Nobody Perfect, e uma treta The House of Blue Light. Lamento mas na realidade ninguém gostou e foi inesperadamente inaceitável para alguém tão brilhante como estes senhores. Gillan sai de novo e para o lugar dele vem o ex Rainbow Joe Lynn Turner. Com ele sai um sofrível Slaves & Masters mas Gillan regressa e já com ele um novo álbum é editado, The Battle Rages On.
O mau feitio do Ritchie Blackmore de vez em quando vem à tona, e depois de severas discussões acaba por reiniciar os Rainbow entrando para o lugar dele Steve Morse, enquanto também começa a colaboração com os Deep um extraordinário virtuoso da guitarra, o Mr Joe Satriani.
Em 1998 sai um bom disco. O álbum chama-se Abandon e antecede a “reforma” de Jon Lord.
A bem dizer a banda não está morta porque ainda há resistentes. Don Airey veio dos Rainbow é com Ian Gillan, Morse Ian Paice e Roger Glover que são editados novos albuns em 2003 e 2005, respectivamente Bananas e Rapture of the Deep. Ambos são acompanhados por tours mundiais estando anunciado para este ano de 2010, um novo tour.

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